Campos de concentração nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial

em 10/04/2014


Há tempos foram ao ar aqui no Noite Sinistra postagens que falavam de campos de concentração espalhados pelo território brasileiro. Um dos textos falava dos campos de confinamento construídos no Ceará afim de evitar que a população rural, que enfrentava uma seca devastadora, migrasse para a capital. O medo dos ricos empresários da capital cearense de que a população esfomeada do interior "pesteasse" a bela capital do estado, fez com que o governo, com o apoio da Igreja, confinasse os colonos em fazendas onde essas pessoas acabaram tratadas como animais (clique AQUI para entender melhor essa história). Outro texto falava dos campos de concentração criados no Brasil, destinados a reclusão de pessoas de origem alemã, italiana e japonesa durante o período da segunda guerra mundial (clique AQUI para conhecer essa história). Hoje volto a falar do assunto, porém falarei dos campos de concentração que foram criados nos EUA durante o período da Segunda Guerra Mundial.

Os campos de concentração nos EUA


Sempre que falamos de campos de concentração lembramos dos campos criados pelos nazistas para aprisionar e posteriormente executar os judeus durante a segunda guerra mundial. O Japão também fez uso dessa ferramenta contra os chineses. Mas engana-se quem pensa que apenas esses países fizeram uso dessa prática durante os períodos de guerra. Os países aliados também fizeram uso de campos de reclusão tanto no continente Americano, como também na própria Europa. A diferença é que os campos aliados não visavam o extermínio, mesmo que muitas vezes as instalações precárias acabassem favorecendo o aparecimento de doenças que provocavam mortes em massa. A grande questão é que tanto os aliados como os nazistas e japoneses confinaram, na sua grande maioria, a população civil.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA mantiveram campos de concentração tanto em território nacional, como em outros países como Alemanha (período em que a Alemanha já estava a beira da rendição, mas o Japão continuava resistindo), Canadá, Cuba e outros. Nos campos em território nacional, os EUA mantinham prisioneiros militares e civis, principalmente japoneses e seus descendentes.

O campo de Crystal City, no Texas, mantinha detentos nipo-descendentes e alemães, sendo que os alemães chegaram a servir de instrumento de troca para a libertação de prisioneiros judeus dos campos da Europa.

Merece destaque o fato de que a detenção indiscriminada de civis era motivada por preconceitos étnicos, e as contestações de organismos de defesa de direitos humanos foram rechaçadas pelos EUA.

Os campos de concentração nos Estados Unidos alojaram cerca de 120 000 pessoas, na sua maior parte de etnia japonesa, e sendo mais da metade delas cidadãos norte-americanos. Os campos, situados no interior do país, foram desenhados para esse fim e estiveram ocupados de 1942 até 1948.

O objetivo foi deslocá-los da sua residência habitual, majoritariamente na Costa Oeste, para instalações construídas sob medidas extremas de segurança; os campos estavam fechados com arame farpado, e vigiados por guardas armados, e situados em paragens afastadas dos centro populacional. As tentativas de abandono do campo resultaram ocasionalmente no abatimento dos reclusos.

Inicio da reclusão

A ação foi tomada em resposta ao ataque a Pearl Harbor durante a Segunda Guerra Mundial, pelo que os Estados Unidos se incorporaram às Forças Aliadas contra o Eixo Roma-Berlim-Tóquio, mas foram majoritariamente as pessoas de etnia japonesa que viviam na costa do Pacífico as submetidas a este internamento.

Campo de Manzanar, Califórnia.
O Tenente-general John L. DeWitt, comandante da Defesa Oeste dos Estados Unidos, foi encarreguedo de internar os norte-americanos de etnia japonesa. Embora DeWitt comandasse a evacuação forçada, inicialmente expressou a um superior a sua moléstia por esta ordem, alegando que: "Um cidadão norte-americano é, afinal, um cidadão norte-americano.". Muitas das pessoas que estavam sendo confinadas, eram pessoas nascidas em território Norte Americano, porém essas pessoas possuíam descendência oriental ou européia. DeWitt acreditava que não seria necessário a prisão de tantas pessoas, pois segundo ele seria possível diferenciar os estrangeiros leais aos Estados Unidos dos não leais.

O Secretário de Guerra Henry Stimson era de acordo com DeWitt, mas a histeria contra os cidadãos de origem japonês pronto alcançou os níveis militares e governamentais.

A 10 de dezembro de 1941, espalhou-se o rumor de que 20 000 Nissei (Americanos de ascendência japonesa) estavam preparando-se para iniciar um levantamento armado em São Francisco, mas investigações do FBI chegaram a conclusão de que a notícia era falsa.

Algumas organizações norte-americanas clamaram pelo encarceramento de todos os Nissei, entre as que se destacam a Legião Norte-americana e os Filhos Nativos do Dorado Oeste. O Secretário da Armada Frank Knox acrescentou mais pólvora à histeria anti-japonesa ao declarar que se levara a cabo um efetivo trabalho de quinta coluna no Hawai, e ao recomendar a evacuação de todas as pessoas com sangue japonês de Oahu. Porém, a declaração de Knox foi desmentida, confidencialmente, por pessoas próximas ao Presidente Roosevelt.

O Congressista Leland Ford escreveu em meados de janeiro uma carta recomendando que todos os japoneses "sejam colocados em campos de concentração no interior", assegurando que os japoneses étnicos naturalizados que realmente quisessem demonstrar o seu patriotismo deveriam estar dispostos a aceitar este sacrifício. O Governador de Oregon Charles A. Sprague demandou mais proteção contra atividades estrangeiras, fazendo ênfase nos japoneses residentes na costa. Pela sua vez, o Prefeito de Seattle, Earl Millikin, assegurou que embora a grande maioria dos japoneses étnicos não fossem uma ameaça, outros eram capazes de "queimar a povoação" e facilitar um ataque aéreo japonês. O Governador de Califórnia, Culbert Olson, também participou na histeria assegurando que alguns residentes japoneses estavam comunicando-se com o inimigo ou se estavam preparando para formar uma quinta coluna.

A princípios de fevereiro, Los Angeles Times participou em acrescentar a histeria contra os japoneses: "Uma víbora é uma víbora, sem importar onde se abra o ovo. Do mesmo jeito, um japonês-norte-americano, nascido de pais japoneses, converte-se num japonês, não num norte-americano."

Depois DeWitt ordenou realizar registros nas casas de japoneses étnicos, com o objetivo de apoderar-se de câmaras e armas "subversivas". Quando o Fiscal Geral Francis Biddle alegou que era preciso apresentar uma possível causa de arresto, DeWitt assegurou que ser descendente de japonês era uma. Porém, após realizar várias procuras sem ordens de registro, até mesmo nas casas de cidadãos norte-americanos, o FBI reportou que não se encontraram armas que pudessem ser utilizadas para ajudar o inimigo, nem câmaras que estivessem sendo usadas em trabalhos de espionagem.

A 25 de janeiro de 1942, Biddle foi convencido por Stimson, que pela sua vez foi convencido por DeWitt, de estabelecer zonas proibidas para os estrangeiros de países inimigos, e zonas restringidas, onde os estrangeiros poderiam estar mas sob vigilância. Posteriormente, Biddle explicou que aceitara porque cria que somente os estrangeiros se veriam afetados, não os estrangeiros naturalizados ou os cidadãos descendentes de estrangeiros.

A 9 de fevereiro, DeWitt solicitou a Biddle incluir a Portland, Seattle e Tacoma na lista de zonas proibidas, o que significava a evacuação de milhares de pessoas. Biddle recusou, alegando que não recebera uma justificação para aceder. Contudo, Biddle agregou que se esta evacuação era uma "necessidade militar", a decisão devia ser tomada pelo Departamento de Guerra, não pelo Departamento de Justiça.

Quase de imediato, o Presidente Franklin D. Roosevelt foi pressionado por Stimson para que acedesse ao plano de DeWitt. Depois, uma delegação do Congresso enviou uma resolução a Roosevelt solicitando a evacuação imediata dos japoneses étnicos, sem distinguir entre estrangeiros ou cidadãos.

A 14 de fevereiro, DeWitt recomendou formalmente a "evacuação de japoneses e outras pessoas subversivas da costa do Pacífico. DeWitt assegurou: "O fato de não ter ocorrido alguma sabotagem até a data é uma indicação perturbante de que tal ação ocorrerá."

A 17 de fevereiro, Biddle insistiu frente do Presidente de que não tomasse esta medida pela última vez, argumentando que não havia evidência de um ataque iminente e que o FBI não tinha evidências de possíveis sabotagens. O Diretor do FBI, J. Edgar Hoover, também recomendou a Roosevelt que não evacuasse os japoneses, mas foi em vão.

A 19 de fevereiro, Roosevelt assinou a ordem executiva Nº 9066, autorizando o Departamento de Guerra para delimitar áreas militares onde a permanência das pessoas seria decidida pelo Secretário da Guerra Henry Stimson. Este último aclarou a DeWitt que os descendentes de italianos não deveriam ser molestados, e que somente alguns refugiados alemães deviam ser considerados.

Uma apelação apresentada por organismos de defesa dos direitos humanos tentou impugnar o direito do governo a encerrar pessoas por razões étnicas, mas a Corte Suprema dos Estados Unidos recusou a petição.

A 23 de fevereiro, um submarino japonês I-17 disparou contra um armazém de combustível em Santa Bárbara, incendiando uns barris sem provocar baixas. Ao dia seguinte, unidades do Exército norte-americano em Los Angeles viram-se afetadas pela histeria e atiraram as suas armas antiaéreas ao céu. O ruído sobressaltou a algumas unidades de artilharia que também atiraram os seus canhões, cerca de 1430 cargas. Embora posteriormente esse episodio fosse chamado burlosamente a “Batalha de Los Angeles”, nesses dias somente contribuiu para incrementar a histeria populacional.

A 2 de março, DeWitt estabeleceu a Área de Exclusão Militar 1, que ocupava o oeste de Washington, Oregon, Califórnia e a metade sul da Arizona. A Área de Exclusão militar 2 ocupava o restante dos estados mencionados. DeWitt não pôde iniciar de imediato a evacuação porque se apercebeu que não era considerado um crime que um civil recusasse cumprir uma ordem militar. Stimson solucionou o problema criando uma lei que condenava tudo civil que desobedecesse um militar numa área militar a um ano de prisão e a uma multa de 5000 dólares. A 9 de março, a lei foi apresentada no Congresso, somente um senador republicano se opôs, e ninguém votou contra da lei. A 21 de março a lei foi assinada por Roosevelt e DeWitt finalmente obteve o sinal verde para iniciar a evacuação forçosa dos Nissei.

A 31 de março de 1942 a Zona 1 foi declarada fora de limites para qualquer pessoa de ascendência japonesa. De imediato ordenou-se que aqueles japoneses ou descendentes de japoneses residentes que se preparassem para partir, sem especificar o seu destino e limitando a sua bagagem a um bolso de mão. Embora 7 de cada 10 étnicos japoneses afetados pela medida tivessem nascido nos Estados Unidos, a ordem não fazia distinção sobre nativos ou estrangeiros.


Também se pensou em internar os estrangeiros alemães e italianos, mas houve tantos protestos que o governo norte-americano desistiu, argumentando que a estrutura econômica dos Estados Unidos ver-se-ia afetada e que o moral dos cidadãos descendentes de alemães e italianos decairia.

Estabelecimento dos campos de Concentração

Inicialmente pensou-se em obrigar as pessoas de etnia japonesa a viver numa áreas escolhidas no interior do país, mas os povoadores destas áreas protestaram contra a medida e decidiu-se internar os prisioneiros em campos especialmente criados para este fim.


Então, as pessoas de etnia japonesa, cerca de 110 000, foram obrigados a vender as suas moradias e negócios em oito dias, embora em algumas partes este tempo se rebaixasse a quatro dias ou fosse elevada a duas semanas. Com posse de informações a respeito dessa medidas, compradores interessados se mostraram hostis, e compraram as posses japonesas a preços muito baixos. Naqueles dias, os japoneses étnicos possuíam 0,02% da terra cultivável da Costa Oeste, mas o valor das suas terras, em média, era sete vezes superior ao do média regional. Quando algum descendente japonês se negasse a vender determinado artefato sob suas posses, preferindo destruir o mesmo, esse indivíduo acabava sendo acusado de sabotagem; este foi o maior caso de sabotagem japonesa reportado nos Estados Unidos durante a guerra..

Muitos japoneses colocaram as suas posses em armazéns, esperando poder reclamá-las depois da guerra, mas enquanto isso, essas instalações quando descobertas eram vandalizadas e roubadas. Alguns  japoneses arrendaram suas posses, mas os ocupantes depois recusaram pagar o aluguer. Alguns donos de plantações descobriram depois da guerra que os seus trabalhadores venderam os terrenos a terceiros. Muitos que decidiram não vender as suas propriedades, descobriram depois da guerra que as suas casas foram invadidas ou que o Estado as expropriara por não pagar impostos.


Uma vez finalizado o tempo para a preparação, os japoneses étnicos foram levados a centros de reunião em comboios ou ônibus, vigiados por guardas armados. Na maioria dos casos, estes centros eram hipódromos, e os evacuados tinham de dormir nos estábulos.

No final de maio de 1942, os evacuados foram instalados em campos rodeados por alambrados e cercas. Estes campos foram chamados "centros de relocalização", mas as condições de vida ali eram apenas ligeiramente melhores que as dos campos de concentração.

Nos campos, entregaram placas para se identificarem a cada família, com um número para cada membro.


Um campo de internamento foi o de Crystal City, no Texas, onde foram colocados, entre outros, japoneses, nipo-latinos e alemães. Neste campo os internados receberam um trato agradável por parte das autoridades norte-americanas. Por outro lado, o campo de Tule Lake esteve sob um regime mais severo; foi reservado para os descendentes de japoneses e as suas famílias que eram suspeitos de espionagem, traição ou deslealdade, bem como para líderes comunitários, como sacerdotes ou mestres. Outra famílias foram levadas a Tule Lake ao solicitarem ser repatriadas ao Japão. Neste campo houve algumas manifestações pro-japonesas no decurso da guerra.

Tule Lake nos dias atuais

Dissolução dos campos

No início de 1943, DeWitt já não contava com credibilidade no Departamento de Guerra, e foi relevado do controle no Comando Oeste. No seu relatório final, DeWitt assegurou que a evacuação forçosa dos japoneses para campos fora necessária, pois assegurou ter recebido centos de reportes sobre aparições de luzes na costa e transmissões de rádio de origem desconhecida. Contudo, não foi até a primavera de 1944 que o Departamento de Guerra recomendou a dissolução dos campos ao Presidente Roosevelt. Contudo, devido a que esse ano Roosevelt buscava a reeleição, a decisão foi adiada.

Assim, na primeira reunião de gabinete depois da reeleição de Roosevelt, decidiu-se soltar todos os evacuados que demonstraram ser leais. Mas esta decisão tardou um ano em ser executada completamente.

À saída, os evacuados receberam um bilhete de comboio e 25 dólares.

Pós - Guerra

O governo norte-americano passou a oferecer compensações às vítimas a partir de 1951, mas o governo se desculparia oficialmente somente em 1988, afirmando que a concentração de prisioneiros se deveu a "preconceitos raciais, a histeria bélica e a deficiência da liderança política". O Presidente Ronald Reagan assinou além disso uma ata na que oferecia 20 mil dólares norte-americano às vítimas sobreviventes.

Durante a guerra, muitos norte-americanos descendentes de japoneses perderam todas as suas posses, pois as suas poupanças foram confiscadas pelo governo ao serem considerados "propriedade inimiga". Estima-se que se perderam uns 400 milhões de dólares norte-americano desta maneira, mas depois da guerra, o governo apenas devolveu 40 milhões. Contudo, estas devoluções ocorreram muitos anos depois do ataque a Pearl Habor. No caso dos clientes do Yokohama Specie Bank, banco norte-americano de origem japonesa, os depositantes não receberam as suas poupanças até 1969, quando o Supremo Tribunal decidiu em seu favor, especificando que a devolução devia ser realizada sem interesses e ao troco pré-guerra.

Atualmente ocorre todos os anos entre os duas 30 de junho e 3 de julho, nas redondezas onde antes se localizava o campo de Tule Lake na Califórnia, uma série de cerimônias que visa homenagear essas pessoas que foram confinadas. Os organizadores do evento afirmam que o público vem aumentando a cada ano, pois a medida que as pessoas vão conhecendo elas também acabam se sensibilizando com o drama passado por muitos desses nipo-americanos.

Mori Tanimoto, que foi detido no campo do Tule Lake, com a mala que usava na época
Fontes: Wikipédia, Metapedia e IG

6 comentários:

  1. varios países que participaram da segunda guerra fizeram esse tipo de merda com populações civis. Por mais que o Japão tenha cometido atrocidades, as pessoas que os EUA perseguiram em seu território nada tiveram a ver com isso.

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    1. Pois é. Eram geralmente famílias normais, civis, com crianças e idosos no meio.

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  2. Matéria tendenciosa,imparcial e desonesta. Quem dera os campos de concentração nazistas tivessem as mesmas comodidades e conforto dos campos americanos.

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    1. Desonesta?...no que vc se apoia para fazer tal afirmação...? Sempre cito todas as fontes de pesquisa que uso para que nenhum babaca venha me acusar de inventar tais coisas...mas sempre aparecem alguns neah?

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    2. não liga para um cara desses, o texto esta ótimo e cheio de referencias, quem duvidar pequisa na net, ze mundico é o típico brasileiro lustra bolas dos americanos, não sabe de nada mas comparado com os EUA, eles são sempre melhores, mesmo quando hipocritamente perseguem e matam tanto quanto os "caras maus"

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  3. O que ocorreu com as propriedades dos étnicos japoneses, me faz lembrar um outro país, cujos procedimentos, muito se assemelham.

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