O caso das freiras possuídas de Loudun

em 01/10/2020


O conceito de possessão demoníaca é bastante antigo e está presente em diversas culturas no mundo inteiro. Houve um tempo, não muito distante, em que as pessoas viviam aterrorizadas por demônios, quando eles eram considerados como uma ameaça muito real que espreitava nas sombras e aguardava para tomar vítimas inocentes.

Casos de possessão eram incrivelmente comuns, sendo que muitas vezes esses casos eram usado pela Igreja como forma de meter medo nos fieis e manter os mesmos próximos da instituição religiosa. Mas relatos de possessões, e até o fato de pessoas tirarem proveito disto, não é apenas coisa da idade média, pois estes relatos continuaram acontecendo em tempos modernos e até na era da razão.

Um caso de possessão demoníaca já é suficientemente assustador, mas imagine o que acontece quando múltiplas vítimas sucumbem a essas forças malignas. Esse é exatamente o caso de um dos mais famosos incidentes de possessão em massa na história. Ele ocorreu no século XVII, quando as freiras de um tranquilo convento numa região sonolenta da França se tornaram o foco de um espetáculo de horror sobrenatural debatido até hoje e cheio de controvérsias e intrigas.

As freiras possuídas de Loudun

Para relatar esse acontecimento histórico real devemos retornar para a França do ano de 1632, mais especificamente na cidade de Loudun. Nesse lugar isolado e tranquilo existia um convento da Ordem das Ursulinas, originalmente construído em 1626. O convento era bastante novo na época dos eventos e era dirigido pela excêntrica, poderosa e muito influente Madre Superiora Jeanne des Anges. As freiras que viviam no Convento levavam uma existência humilde e quieta, ao menos até que algumas freiras começaram a relatar a presença de um homem.

O misterioso visitante foi visto primeiro nos arredores do convento, atrás de seus muros, apenas pelas janelas. Ele parecia curioso, observando com interesse o lugar onde viviam cerca de 50 freiras e noviças. Contudo, com o tempo, mais e mais testemunhas afirmavam ter visto a figura andando pelo pátio, pelos corredores, pelas dependências privadas e até perambulando pela capela. Nem é preciso dizer que a presença de um homem, quanto mais alguém desconhecido, era veementemente proibida pelo severo código de conduta da congregação das ursulinas. Ainda assim, ele era avistado cada vez mais frequentemente. Durante essas visões, a figura parecia especialmente amável, com um aspecto quase angelical e modos gentis que fizeram algumas das freiras supor que pudesse se tratar de um tipo de milagre.

Mas logo essa suposição foi abandonada.

Certa noite, uma noviça acordou aos gritos afirmando que o misterioso visitante se materializou em seu quarto no meio da madrugada sussurrando propostas indecorosas e propondo impensáveis atos sexuais. A jovem, de apenas 14 anos estava em choque e seu testemunho foi suficiente para colocar o convento inteiro em estado de alerta. Uma busca foi realizada pelo convento local, de cima a baixo, à procura de um invasor indesejado: nenhum quarto foi deixado de lado, nenhum aposento ficou intocado. Entretanto, nada de estranho foi achado! A Madre decidiu então fechar todas as portas e vedar o acesso de toda e qualquer pessoa ao Convento.

O temor era que não havendo uma explicação razoável para os acontecimentos, este residisse nos domínios do sobrenatural e que a aparição fosse um tipo de demônio enviado para tentar as religiosas. 

Não há como dizer ao certo o que veio primeiro, o terror ou a paranoia, mas é certo que o severo isolamento criou as condições ideais para o drama que se seguiu. As freiras continuavam a ver o homem, cada vez mais frequentemente. Pior que isso, ele deixara de ter a aura angelical manifestada até então, assumindo uma forma bem mais sinistra e assustadora. O homem sorria maliciosamente, encarava com luxúria e fazia promessas de indescritíveis prazeres carnais.

Para tornar a situação ainda mais aterrorizante algumas freiras começaram a manifestar estranhos comportamentos: tinham convulsões, se contorciam pelo chão, falavam em idiomas desconhecidos e davam vazão a um linguajar de baixo calão. Algumas demonstravam uma súbita lascívia que as acometia como um transe. Para lidar com isso a Madre ordenava que as acometidas fossem mergulhadas em banheiras de água fria e depois confinadas no claustro.

Após sofrer uma dessas crises, uma das freiras fez uma séria acusação. Ela afirmou que o responsável por aqueles ataques era um pároco chamado Urbain Grandier, que presidia a Igreja de St-Pierre-du-Marché em Loudun desde 1617. O sacerdote já havia sido acusado anos antes de comportamento decididamente pouco condizente com a batina que vestia. Rico e bonito Grandier tinha a reputação de perseguir mulheres e de ter engravidado ao menos uma.


Ele também já havia sido acusado de imoralidade em 1613, tendo escapado da prisão e mantido seu status apenas em face de seus amigos poderosos. Pesava sobre ele também uma séria suspeita de que havia se metido com magia negra na juventude. Circulava o boato que ele havia realizado um pacto com o diabo e que sua devoção religiosa não passava de uma farsa. 

Enquanto isso, os incidentes no convento se intensificavam. Logo os casos passaram a ser tratados como possessão com relatos das freiras falando línguas estranhas, demonstrando conhecimento arcano, levitando, movendo objetos com o poder da mente, manifestando força sobre-humana e revelando os mais obscuros segredos alheios.

À essa altura os acontecimentos no convento já haviam se tornado de conhecimento público. Cidadãos da cidade passando pelas portas do lugar ouviam os gritos histéricos e os horríveis xingamentos vindos do interior. Madre Des Anges proibiu que as freiras deixassem o convento por temer que a loucura pudesse se espalhar. Ela instituiu um revezamento de orações que deveria ocupar 24 horas do dia para afastar a presença nefasta do demônio.


Três padres foram enviados para investigar o fenômeno e determinar se realmente se tratava de obra diabólica. No total, 27 freiras no convento manifestavam os sintomas de alegada possessão demoníaca. Os sacerdotes ficaram chocados com o que testemunharam no convento e determinaram que as portas ficassem fechadas até encontrar uma maneira de lidar com o problema. Um cronista do caso, Des Niau, escreveu a respeito do Horror de Loudun e dos exorcismos posteriores:

"Elas passavam de um estado de quietude para as mais horrendas convulsões, sem aumento da pulsação. As freiras possessas batiam com força no peito e na cabeça, por vezes saltavam no ar ou se atiravam contra as paredes agitando os braços em devaneio. Se feriam nessas demonstrações de loucura. Quando terminavam exauridas, ficavam imóveis, deitadas sobre o estômago com as palmas das mãos tocando o chão. O rosto transfigurado por um tormento interno. Os olhos piscando e a boca abrindo e fechando, por vezes proferindo obscenidades. As línguas terrivelmente inchadas, enegrecidas e duras por vezes se mostravam cobertas de verrugas.

Elas proferiam horríveis gritos tão altos que ninguém conseguia ficar no mesmo aposento que elas. O comportamento delas era indecente e tão indecoroso que causaria constrangimento no mais depravado dos homens, enquanto seus atos, expondo e convidando aqueles presentes causava enorme repulsa. Nem mesmo nos mais baixos antros e bordéis se via algo semelhante. Elas amaldiçoavam a Trindade e os Santos, fazendo uso de palavras tão execráveis que jamais poderiam ter surgido na mente de pessoas sãs.

O Diabo às fazia, de tempos em tempos cair no sono: elas se largavam no chão e ficavam tão pesadas que ninguém era capaz de movê-las. E se alguém tentava fazê-lo, despertavam enlouquecidas mordendo e arranhando. Uma delas teve de ser amordaçada pois tentava morder e gritava com um conjunto de vozes que não era dela própria". 

Tentativa de exorcismo

Os padres tentaram realizar o Ritual sagrado do Exorcismo, invocando o poder de Deus para libertá-las dos demônios que as possuíam, ele descreveu em detalhe só que aconteceu em seguida:

"Uma delas esticou as pernas de tal forma que pareceu crescer. Os braços ficaram flácidos como um chicote e como tal, eles tentavam alcançar o padre que mostrava o crucifixo. Em outro exorcismo a possessa flutuou no ar, tocando o chão apenas com seus cotovelos. Ela então se ergueu até o teto e permaneceu ali suspensa por vários minutos".

Um relatório com todos os acontecimentos foi rapidamente redigido pelos padres que se julgaram incapazes de enfrentar essa batalha sem arriscar sua sanidade. Eles enviaram para Sorbonne o documento assinado por várias testemunhas, médicos e autoridades eclesiásticas que estiveram presentes durante a tentativa falha de exorcismo. Até mesmo o Bispo de Poiters esteve presente a uma das tentativas e se mostrou perplexo com o que aconteceu: segundo ele, a possessa flutuou no ar 24 polegadas acima do chão. Os legisladores em Sorbonne examinaram o relatório e foram da mesma opinião que o Bispo declarando que a Possessão Demoníaca havia sido confirmada.

Dizia-se que as Freiras possessas tentavam atacar sexualmente os padres, rasgando suas roupas e agarrando-os à força. Durante o Exorcismo de uma das Freiras, ela teria confessado que vários demônios estavam habitando o Convento: Asmodeus e Zabulon, que conferiam à elas poderes sobre-humanos e Isacarron, o demônio da perversidade sexual que despertava a luxúria que as consumia de dentro para fora. Em outro momento, o demônio teria dito que uma horda inteira de demônios menores havia sido convocada para tomar as mulheres e despertar nelas o fogo do inferno.

Um novo trio de exorcistas renomados foi escalado para enfrentar o problema, o Padre Capuchinho Tranquille, o Franciscano Lactance e o Jesuita Jean-Joseph Surin se deslocaram para Loudun. Segundo cronistas, uma multidão formada por mais de 7000 curiosos se mobilizou para acompanhá-los e testemunhar os trabalhos que seriam realizados na praça da cidade diante de um público ávido. A cidade foi inundada por uma romaria de pessoas, muitas das quais vindas de províncias distantes. O incidente se tornava um acontecimento nacional, comentado em toda França. O espetáculo ganhava proporções surreais mesmo para uma época de extrema superstição e crendice.

Padre Grandier é acusado de pacto com o Diabo

O boato de que a culpa repousava sobre o Padre Grandier, que se negou a participar do exorcismo, começou a ganhar cada vez mais força. Eventualmente, o Padre foi preso tentando deixar Loudun na calada da noite e levado diante das Autoridades Eclesiásticas.

Ele foi mantido preso na masmorra do Castelo de Angers e torturado para que confessasse sua participação no incidente. Nos autos do processo movido contra Grandier consta que os juízes encontraram em seu corpo as "marcas do diabo", que provavam seu conluio com as forças das trevas. Grandier teria uma marca de mordida feita por um familiar através da qual este se alimentava de seu sangue e uma verruga no pênis que evidenciava que ele havia recebido felação de uma sucubus. A culpa foi imediatamente decretada pelos juízes que apuraram ainda que o Padre havia assinado um pacto com o diabo usando seu próprio sangue.

Ele teria escrito em um pergaminho achado em sua casa as seguintes palavras:

"Meu Senhor e Mestre Lúcifer, eu o reconheço como meu único Deus e prometo servi-lo pela minha vida mortal. Eu renuncio a Deus, Jesus Cristo e todos os Santos, à Igreja Católica Apostólica Romana e seus Sacramentos. Eu renuncio ao óleo consagrado e a água do Batismo, junto com todas as bençãos sagradas. Eu rendo a ti homenagens e devoção, três vezes ao dia, colocando em suas mãos minha vida e minha alma imortal".


A confissão extraída de Grandier foi obtida mediante o emprego dos mais medonhos métodos de tortura à disposição. Ele foi queimado, suas pernas foram quebradas na roda e seus pulsos torcidos até se partirem. No decorrer da tortura, freiras possuídas teriam tentado defender o Padre, e até mesmo a Madre De Anges buscou interceder afirmando que as acusações contra ele eram circunstanciais. Ela chegou até a dizer que uma injustiça estava sendo cometida e que o sangue de um inocente estava sendo derramado. 

Uma nova comissão de Juízes e doutores da lei, foi então chamada às pressas. Apesar deles terem encontrado "marcas demoníacas" no corpo de Grandier, eles suspeitaram que a carta que firmava o pacto havia sido escrita por ninguém menos que a Madre Jeanne Des Anges que o havia feito para incriminar o padre. Agora arrependida ela tentava salvá-lo da fogueira.

Reviravolta no caso

Com essa suspeita, o caso inteiro sofreu uma grande reviravolta. Os novos juízes examinaram as freiras possessas e determinaram que elas não estavam falando uma língua misteriosa, mas simplesmente inventando palavras sem nexo. Também determinaram que nenhuma delas era dotada de força sobre-humana como muitos diziam e que os rumores sobre façanhas de levitação eram muito exagerados. Em interrogatórios posteriores, algumas das freiras acabaram admitindo que estavam inventando a possessão e que haviam sido instruídas pela Madre Superiora à fazê-lo.

No fim, nada disso importava: a corte via nas tentativas de inocentar Granier evidência de que o diabo estava manipulando as freiras para salvar seu servo. Eventualmente os juízes ordenaram que qualquer pessoa tentando defender o Padre seria preso e acusado. Apenas as testemunhas contra Grandier foram permitidas a falar ou tentar inocentar o padre.

No fim das contas, o "Julgamento", seguindo os princípios da época não foi exatamente justo, e não foi surpresa para ninguém quando o Tribunal considerou Urbain Grandier culpado de todas as acusações que incluíam "mágica, malefício e causar possessão demoníaca". A pena também não era exatamente uma novidade: queimar na fogueira. Segundo os autos do processo, não lhe foi permitido sequer as célebres últimas palavras - um costume normalmente aceito.

Na data da execução ele foi conduzido acorrentado e amordaçado até o centro de Loudun.


Desfecho

Mas esse não foi o fim do Horror de Loudun. 

Durante mais de um mês as freiras seguiram apresentando o comportamento de possessas para entretenimento da multidão que parecia se deleitar com aquele espetáculo bizarro. Não demorou, entretanto para que aquilo começasse a cansar as pessoas que viam tudo como um show fraudulento.

O restante dos exorcismos, sem grande interesse, foram realizados no Convento com portas fechadas. Poucos meses depois, Jeanne des Anges alegou ter recebido um sonho no qual deveria visitar o Sepulcro de São Francisco de Sales e fazer uma promessa a ele para que a possessão se encerrasse. Ela recebeu permissão para viajar e após a peregrinação aparentemente as possessões cessaram.

Contudo, alguns dos envolvidos sofreram revezes após o Horror de Loudun.

O Padre Jean-Joseph Surin afirmou ter sido atacado espiritualmente pelos demônios. Ele ficou tão convencido disso que sua saúde física e mental se deterioraram rapidamente, ao ponto dele ter sido obrigado a se afastar de suas funções e se aposentar. Ele passou o restante de sua vida atormentado por pesadelos, encontrando paz apenas na morte em 1665.

Outros indivíduos envolvidos nos exorcismos também relataram ter sido de alguma forma afetados. Doença, loucura e morte, bem como visões do espírito de Grandier os assombrando do além túmulo foram algo comum entre os Exorcistas.

Padre Lactance teria ficado cego menos de um ano depois dos acontecimentos em Loudun. Ele afirmava que a última coisa que viu, foi o fantasma de Grandier.

Padre Tranquille morreu consumido por uma doença devastadora que o deixou inválido pelos últimos 3 anos de sua vida. O Médico instruído a examinar as "marcas do demônio" no réu também sofreu com várias doenças e no fim da vida se disse consumido pelo remorso. Mesmo o verdugo que falhou em estrangular Grandier morreu afogado em um estranho acidente.

Considerações

As Possessões de Loudun se tornaram uma estranheza histórica com várias interpretações. É claro, existem aqueles que assumem que realmente ocorreu um autêntico caso de possessão, com fenômenos sobrenaturais afetando as freiras e testemunhado por padres que acabaram amaldiçoados posteriormente. Outros acreditam que o horror é um exemplo clássico de histeria em massa e que Grandier não era nada a não ser um bode expiatório que foi pego em meio ao turbilhão de paranoia. Sua reputação prévia, não ajudou em nada e ele acabou pagando um alto preço pelos seus erros.

A hipótese mais popular, e mais aceita atualmente, é que Urbain Grandier teria sido vítima de uma conspiração movida por inimigos que fizeram com que ele fosse acusado de feitiçaria e removido de Loudun para sempre. Embora Grandier fosse um simples padre, ele contava com apoio político e contatos que desejavam torná-lo Bispo da região.

Um dos inimigos que realmente detestava Grandier era ninguém menos que o poderoso Cardeal Richelieu que era contra a promoção de seu desafeto ao bispado. A teoria é que a Madre Superiora tenha sido convencida a criar a situação e apontar o dedo para Grandier afim de que ele fosse afastado. Provavelmente a situação saiu de seu controle e a repercussão acabou sendo muito maior do que ela havia planejado. Muitas pessoas acreditam que a comprometedora carta escrita com sangue assinada por Grandier havia sido plantada por Jeanne Des Anges que não por acaso terminou os seus dias em Paris, sob a proteção de Richelieu.

Fontes: Mundo Tentacular e Históriablog

Quando amanhecer, você já será um de nós...

3 comentários:

  1. Por coincidência eu assisti a poucas semanas o filme The Devils (1971) de Ken Russell que tem um visão sobres esses eventos, eu diriam, bem forte. Muita nudez e blasfêmia! Polemico e sensacional...

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    1. Interessante... vou ver se consigo assistir a este filme. Sempre bom ver tramas no cinema que fazem alusão a eventos reais, mesmo de forma mais fantástica.

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