No dia 28 de fevereiro o navio Anna Karoline 3 naufragou no Amapá, causando a morte de mais de 40 pessoas. Recentemente o navio foi retirado do fundo do rio, e as imagens do interior da embarcação podem ser conferidas mais a seguir.
Nas redes sociais circula o boato que essa embarcação poderia ser a mesma que em 1981, na época como o nome de Santos Sobral 2, naufragou na cidade de Óbidos no Pará vitimando cerca de 300 pessoas. Depois de recuperado o Santos Sobral 2 passou a ser chamado Cisne Branco.
Convido a todos a conhecer essa matéria que nos foi gentilmente enviada pela amiga Nayara Mastub.
O Anna Karoline 3 saiu por volta das 18h da sexta-feira, dia 28 de fevereiro, de Santana, no Amapá, em direção a Santarém, no noroeste do Pará. A viagem entre as duas cidades dura, em média, 36 horas. A previsão de chegada em Santarém era às 6h do domingo, 1º de março.
Mas a viagem foi interrompida na madrugada de sábado, próximo à Ilha de Aruãs e à Reserva Extrativista Rio Cajari, no Rio Amazonas (veja no mapa abaixo), numa região a 130 km de Macapá, em um local de difícil acesso e comunicação. O chamado de socorro foi feito pelo próprio comandante da embarcação às 5h.
Ao pedir socorro à Capitania dos Portos, o comandante da embarcação declarou que o acidente aconteceu após um forte vento e que muitos passageiros caíram na água.
Em entrevista ao JAP1, o comandante da Capitania dos Portos do Amapá, Carlos Augusto Souza Junior, detalhou que a embarcação estava inscrita no órgão.
"O barco saiu de Santana por volta das 18h, está inscrito na autoridade marítima. Nós estamos fazendo esforços para atender essa ocorrência e garantir o máximo de salvamentos possíveis. O Anna Karoline 3 tinha capacidade para 242 passageiros e era inscrito [como transporte] para passageiro e cargas", disse.
Vitimas
Não há oficialmente o número de vítimas da tragédia e nem a quantidade exata, porque o navio não tinha uma lista de quantas pessoas embarcaram no porto, e nem a Marinha do Brasil.
Inicialmente o governo chegou a afirmar que eram 60 vítimas, segundo o que o comandante da embarcação havia relatado. No entanto, a polícia informou que, de acordo com os depoimentos colhidos, estima-se que a embarcação levava de 90 a 100 passageiros e tripulantes.
Familiares, amigos e sobreviventes das vítimas sempre contestaram os números apresentados, afirmando que o navio levava em torno de 100 pessoas, além de muita carga.
“Estávamos no convés superior, concentrados todos os passageiros, que eu calculo, em torno de cem para frente”, conta Márcio Rodrigues, sobrevivente.
“O convés superior, de onde a gente veio, estava lotado. Redes encostadas umas nas outras, bem pressionadas mesmo. E tinha rede posicionada no corredor. Então, isso me traz a certeza de que tinha muito mais gente do que eles estão colocando aí”, diz o sobrevivente Roberto Baía.
Apesar das equipes não terem suspendido as buscas por vítimas desde o dia da tragédia, foram encontrados 34 corpos, até o dia 11 de março - a última pessoa resgatada foi uma mulher presa em um compartimento do navio.
Irregularidades do Anna Karoline 3
O comandante do navio não era o proprietário do Anna Karoline 3. Ele afirmou para a polícia que havia alugado a embarcação, pagando R$ 20 mil por mês, de uma empresa de Santarém. A Antaq identificou que a empresa não tem autorização para operar na rota Santana-Santarém. A empresa Erlon Rocha Transportes LTDA só tinha, segundo a Antaq, autorização para operar a linha Santarém-Manaus.
Veja dados da Antaq sobre o navio:
- Nome: Anna Karoline 3
- Linha autorizada: Santarém – Manaus
- Comprimento: 38,25 metros
- Largura: 7,3 metros
- Capacidade de passageiros: 242 passageiros (sem qualquer carregamento adicional)
- Capacidade de carga: 89 toneladas
- Quantidade de convés: dois
A Marinha do Brasil acrescentou que, no cadastro do navio que consta no órgão, é descrito que o Anna Karoline 3 foi construído em 1965, e que atua com 11 tripulantes.
Além da Polícia Civil, também investigam o naufrágio a Capitania dos Portos, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público (MP) estadual, e a Antaq. O Congresso Nacional também criou uma comissão externa para apurar responsabilidades do naufrágio. A Marinha também apura se houve desvio de conduta dos marinheiros.
Reflutuação
Além da investigação criminal, a reflutuação do navio também é um procedimento complexo. Os equipamentos da empresa contratada pelo governo chegaram no local do naufrágio no dia 21 de março, e foram feitos os últimos ajustes para realizar efetivamente a manobra.
Na quarta-feira (25), o governo detalhou que o plano precisou de readequações para que a operação transcorra com maior segurança; já que mergulhadores verificaram que existem grandes volumes de carga soltas no convés. O procedimento também sofre instabilidade climática, e por isso não foi precisada uma data específica para ocorrer o içamento.
O ponto onde o navio afundou foi localizado pelos bombeiros e boias foram colocadas para auxiliar nas buscas. A vista ao redor é de mata fechada, em ambas as margens do rio, que tem bastante correnteza.
O navio, feito de aço, está localizado a 440 metros da margem mais próxima, a mais de 12 metros de profundidade. O Anna Karoline 3 pesa em torno de 200 toneladas. Considerando pesos embarcados no navio, além de lama e a pressão da água, o içamento será de um peso em torno de 1,1 mil toneladas.
Para isso, o trabalho contempla reflutuação e içamento do navio através de uma balsa que já foi ancorada na região com 2 guindastes. O procedimento também conta com instalação de flutuadores que auxiliarão os guindastes.
"O próximo passo da investigação, como vai ocorrer a reflutuação do Anna Karoline 3, nós vamos ao local junto com a equipe de peritos para poder exatamente analisar todas essas circunstâncias, no que diz respeito aos produtos que se encontram dentro da embarcação, realizar pesagem, se for possível, e analisar o que pode ter ocorrido no momento do naufrágio. Existem relatos de que havia muita mercadoria na polpa do navio e que a embarcação começou a naufragar com a entrada de água na polpa do convés principal. A gente vai verificar todas essas situações com a reflutuação do navio", concluiu o delegado Crispim.
O processo de reflutuação foi concluído no dia 29 de março, e desde a noite de sexta-feira (10), o navio Anna Karoline III está em Santarém, oeste do Pará.
Após a chegada ao município, a embarcação atracou em um porto no bairro Prainha, próximo de onde está sendo construído o terminal hidroviário, e está à disposição da empresa proprietária (Erlonav Transportes) após passar por perícia no estado do Amapá, onde naufragou no dia 29 de fevereiro deste ano matando mais de 40 pessoas entre adultos e crianças.
Após a chegada ao município, a embarcação atracou em um porto no bairro Prainha, próximo de onde está sendo construído o terminal hidroviário, e está à disposição da empresa proprietária (Erlonav Transportes) após passar por perícia no estado do Amapá, onde naufragou no dia 29 de fevereiro deste ano matando mais de 40 pessoas entre adultos e crianças.
Abaixo pode-se conferir um vídeo mostrando e estado da embarcação logo após a retirada deste do fundo do rio.
Anna Karoline 3 seria o Santos Sobral 2?
Logo após a notícia do naufrágio do navio Anna Karoline 3 começaram a circular nas redes sociais informações de que esta seria a mesma embarcação que naufragou em Óbidos, no Pará, em 1981 vitimando cerca de 300 pessoas. Muitos internautas inclusive usaram essa comparação para afirmar que o navio era assombrado e amaldiçoado.A tragédia de Óbidos em 18 de setembro de 1981, já foi retratada aqui no blog Noite Sinistra (clique AQUI para recordar). Após ser retirado do fundo do rio a embarcação foi restaurada e voltou a operar, agora com o nome de Cisne Branco, sob administração da empresa de Navegação AR Transporte, do deputado Antonio Rocha e tem autorização para levar apenas 232 passageiros e 160 toneladas de carga.
Segundo o site SeleNafes o delegado Victor Crispin, da 1ª Delegacia de Santana, solicitou à Capitania dos Portos todos os dados do navio Ana Karoline III, que afundou no Rio Jari. A intenção é esclarecer se o Ana Karoline III já havia naufragado antes usando outro nome. Relatos nas redes sociais logo após o naufrágio no Amapá compararam fotos do Ana Karoline III com o “Sobral Santos II”, atual “Cisne Branco”. A reportagem do Seles Nafe compartilhou uma imagem em que ambas embarcações aparecem juntas, logo elas não seriam o mesmo barco.
Outro dado importante a ser mencionado é que o registro na Antaq diz que o navio Anna Karoline 3 foi construído e 1965, já o navio Santos Sobral 2 - Cisne Branco, foi construído em 1957.
Ainda segundo o SelesNafes, o navio Anna Karoline 3 já se chamou Santos Sobral 1, o que pode ter gerado a confusão nas redes sociais, pois o navio que afundou em Óbidos era o Santos Sobral 2.
No entanto, isso não quer dizer que o Ana Karoline III também não tenha naufragado antes usando outro nome. É bem comum no setor náutico que embarcações afundadas sejam recuperadas, vendidas e rebatizadas com outros nomes.
Agradecimentos a amiga Nayara pelo envio desta matéria.
Fonte: G1 e SelesNafes
Quando amanhecer, você já será um de nós...
Não me conformo que em pleno 2020, só se descobre as irregularidades após a desgraça ocorrer....
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