Encontraram uma pirâmide escondida em meio a milhares de estruturas maias antigas recém-descobertas

em 05/10/2018


Usando uma técnica aérea de mapeamento a laser chamada de “LIDAR“, uma equipe internacional de arqueólogos descobriu um número impressionante de estruturas anteriormente não detectadas, pertencentes à antiga civilização maia — uma descoberta que está mudando o que sabemos sobre essa notável sociedade.

Por mais difícil que seja de acreditar, esse esforço de mapeamento, que agora é o maior levantamento de LIDAR da história da arqueologia mesoamericana, revelou a presença de 61.480 estruturas distintas escondidas dentro das densas florestas tropicais da Guatemala.

“Ainda que alguns estudos com LIDAR anteriores nos tenham preparado para isso, ver a quantidade pura de estruturas antigas pela paisagem foi surpreendente”, disse Thomas Garrison, coautor do novo estudo e arqueólogo da Ithaca College, em entrevista ao Gizmodo. “Tenho andado pelas selvas da área maia há 20 anos, mas o LIDAR me mostrou o quanto eu não tinha visto. Havia três a quatro vezes mais estruturas do que eu havia imaginado. Um sítio arqueológico em que trabalho, o El Palmar, agora é 40 vezes maior do que pensávamos! Isso é um tipo completamente diferente de lugar do que o que havíamos projetado — e ele exige uma interpretação completamente nova.”

Esse projeto, cujos detalhes foram publicados nesta quinta-feira (27) na Science, envolveu uma equipe de 18 especialistas de Estados Unidos, Europa e Guatemala e, como aponta Garrison, está oferecendo novas informações sobre a antiga civilização maia das terras baixas, particularmente em relação à sua demografia, agricultura e economia política.

A civilização maia das terras baixas floresceu por quase 2.500 anos, começando por volta de 1000 a.C. e terminando com a chegada dos europeus no século 16 d.C. Os antigos maias, cuja extensão abrangia o que é hoje o sul do México, Guatemala e Belize, eram conhecidos por sua arquitetura, arte, escrita, astronomia e matemática sofisticadas. Em seu auge, essa civilização havia se espalhado por um território de 95 mil quilômetros quadrados, com grande parte disso sendo de terras úmidas. Atualmente, uma parte considerável desse território é obscurecida pela floresta tropical, que é difícil de se explorar a pé. Como resultado, existem algumas lacunas na nossa compreensão das antigas sociedades maias.


E é aí que o LIDAR pode ajudar. Essa técnica de levantamento aéreo funciona ao emitir luz laser pulsada sobre uma área alvo, medindo a luz refletida com um sensor. O LIDAR produz uma visão tridimensional de alta resolução da área abaixo, revelando, como nesse caso, características de superfície inéditas.

O levantamento com LIDAR foi concluído em 2016 e cobriu 2.144 quilômetros quadrados do norte da Guatemala. Os pesquisadores, liderados por Marcello A. Canuto, da Universidade de Tulane, mapearam uma dúzia de áreas diferentes em Petén, na Guatemala, conseguindo varreduras LIDAR de assentamentos e infraestrutura maias. Como apontado acima, a pesquisa resultou na identificação de 61.480 estruturas antigas, que foram posteriormente analisadas usando mapas já existentes de trabalhos de escavação anteriores. É importante destacar, no entanto, que muitos desses locais também foram confirmados por pesquisas no terreno (ou seja, inspeção visual dos locais a partir do solo) e pela realização de novas escavações, ambas realizadas de agosto a dezembro de 2017.

“Uma das estruturas mais empolgantes encontradas foi um pequeno complexo de pirâmides bem no coração do centro de Tikal”, disse Garrison. “Embora ainda não saibamos muito sobre essa estrutura, o fato de que o LIDAR revelou uma nova pirâmide em uma das cidades mais profundamente mapeadas e compreendidas é incrível e realmente destaca o poder dessa tecnologia para os arqueólogos.”

Observando os dados do LIDAR, os pesquisadores estimam que entre sete milhões e 11 milhões de pessoas viveram em todas as terras baixas maias durante o fim do período clássico (650 a 800 d.C.). Essa população antiga estava distribuída de maneira desigual pelas planícies centrais, com graus variados de urbanização.

Isso é um monte de gente. E provavelmente quer dizer que uma porção significativa de áreas úmidas teve que ser modificada para o uso agrícola, de forma a sustentar essa população. Como escrevem os autores no estudo:

Aproximadamente metade das terras baixas centrais é composta por zonas úmidas sazonais conhecidas como “bajos”. Como os assentamentos permanentes tendiam a evitar essas áreas propensas a inundações e mal drenadas, eles permaneceram em grande parte desabitados e poderiam então estar disponíveis, depois de investimentos adicionais, para a agricultura intensiva.


E, de fato, da área varrida, cerca de 1.314 quilômetros quadrados de terra foram usados para a agricultura, dos quais 362 quilômetros quadrados tiveram que ser bastante modificados.

As varreduras também revelaram uma extensa rede de estradas (os pesquisadores documentaram cerca de 106 quilômetros de vias), que conectavam cidades e vilas. Muitos desses centros urbanos foram bastante fortificados, o que não era esperado.

“As redes de vias que vemos refletem um tempo antigo para os maias — o que chamamos de pré-clássico —, quando as cidades eram ligadas por longas estradas que atravessavam a paisagem da selva”, disse Garrison. “No período clássico, os maias eram divididos em dezenas de cidades-estados concorrentes, cada uma com sua própria dinastia local. Parece que parte da manutenção desses reinos envolveu investimentos em projetos substanciais de infraestrutura para integrar a população (vias internas), alimentar as pessoas (extensos sistemas de campo) e proteger o reino (terraplanagem defensiva).”

De fato, os maias se envolviam em guerras de tempos em tempos. Garrison diz que seus próprios relatos escritos fornecem descrições vívidas da guerra, em um caso usando furacões como uma metáfora para a fúria da batalha e, em outro, descrevendo suas consequências, como o “empilhamento de crânios e o acúmulo de sangue”. Os arqueólogos também tinham conhecimento de alguns trabalhos de terraplanagem defensiva em sítios arqueológicos como Tikal e até mesmo em pontos de paisagem estratégicos na área maia ocidental. Mas os novos dados de LIDAR estão mostrando que essas características eram muito mais comuns do que os arqueólogos pensavam, refletindo um nível de militarização anteriormente não levado em consideração.

“Como exemplo, eu trabalho no pequeno reino de El Zotz, a cidade mais próxima de Tikal. O LIDAR revelou uma fortaleza de verdade na beira de uma escarpa entre essas duas cidades”, Garrison contou ao Gizmodo. “A cidadela é protegida por muros com mais de 7,60 metros de altura e tem um grande reservatório artificial que parece com uma piscina de natação olímpica. Em outras palavras, esse lugar, chamado de La Cuernavilla, estava pronto para um cerco. Esse não é exatamente o tipo de conflito em que pensamos quando falamos dos maias antigos.”

Garrison admite que o LIDAR não é perfeito e que ele deixa passar algumas coisas, ocasionalmente fazendo características naturais parecerem artificiais. No geral, no entanto, ele sente que “esse é um rastro quase completo dos maias antigos”. O que traz mais uma limitação.

“Essas imagens representam toda a duração da antiga civilização maia. São mais de dois mil anos comprimidos em imagens que você está vendo”, afirmou. “Nem tudo foi ocupado ao mesmo tempo, e agora é nosso trabalho, como arqueólogos, resolver tudo isso. Mas certamente estamos felizes de ter esses novos problemas!”

Fonte: Gizmodo

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