Olá amigos e amigas, hoje eu volto a publicar um conto de terror. Na duas últimas semanas, abdiquei do direito (ou seria ignorei o dever?), de postar um conto, para em uma das sexta feiras fazer divulgação do livro
Ab Origine - Desde a Origem e na última semana eu acabei meio que sem tempo para realizar a postagem, por motivos acadêmicos. Hoje dou sequencia a essa série de contos que venho postando, e mais uma vez, apelo para um texto do grande mestre Edgar Allan Poe. Aproveitem...
Metzengerstein
Pestis eram vivus – moriens tua mors ero.
Vivendo era teu açoite – morto, serei tua morte.
Martinho Lutero
O horror e a fatalidade têm tido livre curso em todos os tempos. Porque então datar esta estória que vou contar? Basta dizer que, no período de que falo, havia, no interior da Hungria, uma crença bem assentada, embora oculta, nas doutrinas da metempsicose. Das próprias doutrinas, isto é, de sua falsidade, ou de sua probabilidade, nada direi. Afirmo, porém, que muito de nossa incredulidade (como diz La Bruyère, explicando todas as nossas infelicidades) vient de ne pouvoir être seul. ["Provém de não podermos estar sozinhos."] (1)
Mas havia na superstição húngara alguns pontos que tendiam fortemente para o absurdo. Diferiam os húngaros, bastante essencialmente, de suas autoridades do Oriente. Por exemplo: a alma, dizem eles – cito as palavras dum sutil e inteligente parisiense – ne demeure qu’une seule fois dans un corps sensible: au reste un cheval, un chien, un homme même, n’est que la ressemblanc peu tangible de ces animaux. [só uma vez permanece num corpo sensível: quanto ao resto, um cavalo, um homem mesmo, não são senão a semelhança pouco tangível desses animais. (N. T.)]