Winnie Ruth Judd: A mulher tigre

em 03/05/2013


No dia 19 de outubro de 1931, na Union Central Station em Los Angeles, Califórnia, George Brook, funcionário da companhia ferroviária descarregava bagagens. O trabalho estava intenso. A maioria da malas já haviam sido entregues aos seus donos, porém dois grandes e estranhos baús de viagens ainda permaneciam no galpão de bagagens do Golden State Limited. Com receio de que o dono aparecesse mais tarde, Brook decidiu enviar os dois baús para a guarda-volumes da estação. Ele também tinha outros interesses em falar com o dono dos baús: Sendo ele responsável por fiscalizar as bagagens, não poderia deixar nenhuma bagagem suspeita passar.

Em plena lei-seca, baús contendo bebida contrabandeada e outros produtos deveriam ser apreendidos. O que estranhava naqueles baús não era cheiro de álcool, mas um cheiro nauseabundo de carne podre. Poderia ser carne de caça que alguém estava tentando transportar, pois não era incomum caçadores transportarem carne de veado em malas e baús. Brooks compartilhou suas observações com seu chefe, Jim Anderson.


Poucos minutos antes do meio-dia, um casal formado por uma bela mulher aloirada e um jovem alguns anos mais novo que ela procurou Brook para apanhar os baús. A mulher perguntou pelas malas e apresentou os bilhetes de ambos. Anderson pediu a Brook que deixasse o caso por conta dele e pediu que a mulher lhe informasse o que havia nos baús. Ela respondeu que haviam itens pessoais. Anderson perguntou o porquê do mau cheiro e a mulher disse que não havia nada de errado.


O jovem acompanhante da mulher, que foi apresentado como irmão dela, abaixou-se para verificar se os baús realmente exalavam o mau-cheiro e verificou que era verdade. Ele também alertou-a sobre o estranho líquido escorrendo pela borda de um dos baús.

Anderson pediu que a mulher abrisse o baú para fazer uma inspeção, mas ela disse que não estava com as chaves e que precisaria pegá-las com seu marido.Quando Anderson disse que ela poderia fazer uma ligação usando o telefone da estação, ela se recusou. Disse que precisava falar com o marido pessoalmente. Ela e seu irmão seguiram para o veículo Ford que os teria conduzido até lá sem olhar para trás. Eles não voltaram mais.

Por volta de 4:30 da tarde Anderson ligou ao departamento de polícia. O tenente Frank Ryan atendeu o chamado e se dirigiu junto com uma equipe para a estação. Frank olhou os baús e pelo cheiro pútrido e o líquido que vazava presumiu que já poderia esperar pelo pior. Ao abrir o primeiro baú, foi surpreendido por um rosto de uma mulher em decomposição. Ryan falou um palavrão e rapidamente fechou o baú. Ele examinou o outro baú e encontrou um outro corpo.

Ambos os corpos eram de mulheres. Pareciam estarem mortas a pelo menos dois dias. No baú maior estava o corpo de uma mulher aparentemente mais velha. O corpo havia sido forçado para caber no baú e peças de roupas haviam sido jogadas sobre o cadáver. O outro corpo estava cortado em três pedaços. decepado com um objeto bem afiado, e foi posto no baú menor. Os pés da vítima não estavam no mesmo baú, portanto, o corpo não estava completo. As duas mulheres foram mortas a tiros.

Os pés da segunda vítima foram encontrados no banheiro feminino, dentro de uma valise. Junto a eles haviam também uma arma Colt automática calibre 25, uma caixa de cartuchos e vários cosméticos. Havia também uma carta destinada a Willian Judd, a remetente era Winnie Ruth Judd. Ela havia embarcado na noite do dia anterior, em Phoenix, Arizona.

Os corpos foram levados para o necrotério. Winnie se entregaria em 23 de outubro, depois de um pedido do marido.

Winnie Ruth McKinnell
Winnie Ruth McKinnell, ou Ruthe, para os amigos, nasceu em 29 de janeiro de 1905, em Darlington, Indiana. Vinda de família metodista, ela casou-se com Willian Judd, um médico 22 anos mais velho que ela. Willian teve problemas com vício em morfina, o que atrapalhou no seu oficio. Winnie saiu em defesa, afirmando que o vício do marido começou devido a um ferimento causado durante a Primeira Guerra, em 1918, que o levou a fazer uso de morfina para aliviar a dor.

Winnie Ruth
Após o casamento, em 1924, Willian e Winnie foram para o México, onde ele exerceria sua profissão. Winnie engravidou duas vezes, mas abortou. Seu corpo era frágil demais para uma gestação. Ela contraiu tuberculose, o que fez com que o seu marido a internasse em um sanatório, na Califórnia.

Willian Judd
Depois de recuperar parte da saúde, Winnie voltou ao México, para ficar ao lado do marido, mas não conseguiu se adaptar. Em 1930, com 25 ela mudou-se para Phoenix, Arizona, para que seu estado de saúde não se agravasse. Lá ela cortou o cabelo e conseguiu emprego como governanta da família Leigh Ford. Foi nessa época que ela conheceu Jack Halloran, vizinhos dos Leigh. Halloran era um dono de estaleiro de 44 anos de idade, conhecido como Happy Jack (Jack, o sorridente) por seu inigualável sorriso. Ele era bem conhecido em Phoenix como um mulherengo, apesar de ser casado e ter três filhos.

Happy Jack
Winnie sentiu certa liberdade longe do marido. Sentia-se livre e atraia olhares. Ela atraiu Halloran e se sentiu atraída por ele. Depois de um tempo trabalhando com os Ford, Winnie conseguiu emprego na Clínica Grunow, seu salario era maior e a permitiu adquirir uma casa em East Brill Street. Na Grunow, Winnie conheceu Agnes "Anne" LeRoi e Hedvig "Sammy" Sammuelson.

"Anne" e "Sammy"
Agnes "Anne" LeRoi era uma divorciada de 32 anos, nascida em Oregon. Ela trabalhava como operadora de aparelhos de raio-x na clínica Grunow e morava em um bangalô na North Second Street, número 2929, juntamente com Hedvig "Sammy" Samuelson, de 24 anos de idade, nascida em Dakota do Norte, e que tinha problemas de saúde. As duas amigas se conheceram enquanto trabalhavam no estado do Alasca, e decidiram se mudar para o Arizona. A amizade das duas era intensa a ponto de muitos acreditarem que elas eram um casal de lésbicas.

Anne e Sammy
Winnie passou a frequentar a casa das duas, e se tornaram amigas. Halloran também passou a visitar Sammy e Anne, e muitas vezes levava consigo amigos e bebidas, muitas vezes ilegalmente. Ele as visitava praticamente todas as noites, e não era incomum levar presentes, o que levou Winnie a ter ciumes do comportamento de Jack.

Casa onde Anne e Sammy residiam.
No outono de 1931, as três amigas tentaram dividir o mesmo teto. Elas começaram a discutir diariamente e Winnie sempre levava a pior. Sammy e Anne eram unha e carne, e defendiam uma a outra. Winnie deixou as duas e voltou para a Brill Street, a partir daí, a relação entre as três voltou ao normal.

Dia do crime
Na noite de quinta feira, 15 de outubro de 1931, Jack Halloran manifestou à Winnie o seu desejo de caçar nas White Montains, ao norte do Arizona. Winnie disse que uma colega de trabalho, a enfermeira Lucille Moore, poderia dar-lhe umas dicas, pois estava familiarizada com aqueles locais. Ele concordou e Jack e Winnie seguiram para a casa de Lucille, de lá eles jantariam juntos na casa de Winnie. Antes de voltarem para casa Halloran lembrou-se que tinha marcado de visitar Anne e Sammy, Winnie não gostou muito da ideia e ficou no carro junto com Moore. Jack entrou no bangalô, Anne saiu para cumprimentar Winnie.

No dia 16 de outubro, sexta-feira, Winnie aguardava uma visita de Halloran, mas ele não aparecia. Por volta das nove horas da noite, Winnie tomou uma condução e seguiu para a casa de Sammy e Anne, ela sabia que provavelmente Halloran estava lá, jogando bridge. No momento em que ela chegou, Jack já havia ido embora. Ela ia se retirando, mas Anne achou melhor que ela dormisse por ali mesmo, pois o bonde já não estava mais correndo aquele horário. Winnie aceitou a ideia, até porque ela e Anne trabalhavam na mesma clínica, e poderiam ir juntas ao trabalho.

No dia seguinte, Anne Leroi e Winnie Ruth Judd não apareceram para trabalhar.

Versão de Winnie
Winnie, Sammy e Anne tomavam um copo de leite morno, sentadas na cama, antes de dormirem. Anne, disse de repente, que não achava uma boa ideia Winnie aproximar Halloran de Moore, pois eles poderiam se apaixonar e ela soubera que Moore era portadora de sífilis. Winnie rebateu que, primeiramente, ela não estava jogando Halloran pra cima de Moore, e em segundo, assuntos da clínica deveriam permanecer na clínica. A partir daí começou uma troca de insultos Anny e Sammy chamaram Winnie de vagabunda, e disseram que iriam contar sobre ela e Halloran ao seu marido Willian Judd, quando este chegasse do México. Winnie rebateu as ofensas, dizendo que todos sabiam que Sammy e Anne formavam um casal de lésbicas e que contaria para todos que, alguns dias atrás, Agnes quebrara um aparelho de raio-x de proposito.

Winnie foi até a cozinha para colocar seu copo na pia. Ao virar-se, deparou-se com Sammy apontando uma arma para o peito dela. Ela rapidamente apanhou uma faca na cozinha e atracou-se com Sammy. Hedvig puxou o gatilho e acertou a mão de Winnie, apesar da dor, ela continuou lutando e enfiou a faca no ombro de Sammy. As duas lutaram pela posse do revolver, Winnie conseguiu tomar a arma de Sammy e deu-lhe um tiro no peito. Anne foi ajudar a amiga e diferiu golpes com uma tábua de passar na cabeça de Winnie. Winnie virou-se e baleou Anne três vezes, depois disso, desmaiou ao lado do corpo sem vida de Sammy.

Ao recobrar a consciência, ela apanhou um táxi e foi para a casa. Encontrou Jack bêbado e desejou a vontade de chamar o marido, Jack a fez desistir da ideia e prometeu ajudá-la.

Halloran levou Winnie de carro até o local do crime. Lá eles limparam o sangue da paredes e do chão. Winnie tentou ajudá-lo, mas sua mão doía muito.

Jack tentou telefonar para um médico amigo seu, Dr. Brown, para que este tratasse do ferimento de Judd, mas não conseguiu falar com ele. Winnie teve medo de que o Dr. Brown descobrisse sobre o crime, mas Jack tranquilizou-a, falando que se ele soubesse manteria o segredo.

No sábado, Winnie mostrou certo desapontamento com Jack, ao ver que ele não tinha se desfeito dos cadáveres. Jack elaborou um plano para se desfazer dos cadáveres: Winnie iria até Los Angeles e levaria os corpos dentro de dois baús. Abandonar os corpos em Phoenix seria arriscado, pois se alguém achasse os corpos, ela estaria automaticamente implicada no crime. Além disso, Winnie tinha um duplo álibe para a viagem: Visitar o irmão, Burton, que estudava em Los Angeles. Eles colocaram os corpos em dois baús grandes.
O irmão de Winnie, Burton.
Halloran disse também que um conhecido seu encontraria com ela em Los Angeles. Ele telefonaria para ele e diria as características físicas de Ruth, mas mais tarde essa história se mostraria falsa. Não havia nenhum Wilson em Los Angeles. Jack deixou o telefone de uma empresa de transportes, a Lightning Delivery Service, para que Winnie contratasse seus serviços. Por orientação de um funcionário, Winie teve que dividir o peso em uma das malas, por isso colocou os pés de Sammy dentro de sua valise. Na noite de domingo, Winnie chegava com suas malas à estação de Phoenix com destino a Los Angeles.

Parte do corpo de Hedvig Samuelson
A outra parte do corpo de Samuelson

A viagem duraria doze horas, Winnie desesperou-se ao saber que um de seus baús poderia ser recusado devido ao grande peso, mas ela só teve que pagar um dinheiro a mais para embarcá-lo. Em Los Angeles, ela esperou por Wilson, mas ele não apareceu. Ela tentou ligar de um telefone, mas na casa dele a empregada informou que ele havia saído para caçar. Sem alternativa, ela foi procurar o irmão.

Corpo de Agnes LeRoy
Prisão
Ao entregar-se à polícia, Winnie alegou legítima defesa. Ela ainda tinha a bala calibre 25 alojada na mão esquerda. Foi preciso uma cirurgia para retirá-la. A ferida provocada pela bala estava gangrenosa. O médico também contou inúmeras escoriações, resultantes da luta. Por incrível que pareça, esses exames desapareceram do relatório policial.


Para a polícia, Winnie havia matado Sammy e Anne por puro ciume, enquanto elas dormiam, e teria dado um tiro na própria mão, para dar mais credibilidade para sua versão. Eles também acreditaram que Winnie teria "empacotado" os corpos. A mídia começou a chamar Winnie de mulher tigre.


Julgamento
O julgamento de Winnie Ruth Judd começou em 19 de janeiro de 1932, no tribunal de Maricopa, Phoenix. Seus possíveis relacionamentos lésbicos com Agnes "Anne" LeRoi e Hedvig "Sammy" Samuelson e seu crime e ocultação de cadáveres deixaram a todos escandalizados. Ela seria julgada separadamente pela morte de LeRoi e Samuelson.

Winnie se comportou de maneira curiosa durante o julgamento: Ela torcia seu lencinho com as mão e parecia triste. A defesa alegou que as provas que a acusação apresentou eram confusas e inconclusivas. Muitos jurados ficaram alarmados ao saberem que muitas informações sobre o caso não foram esclarecidas.

Winnie e seu marido Willian durante o julgamento.
Em 08 de fevereiro de 1932, Winnie foi considerada culpada e condenada à morte, depois de exames psiquiátricos, ela foi considerada mentalmente insana, sendo abolida a pena de morte.

Fugas
Winnie Ruth Judd se transformou em rainhas das fugas: A primeira foi em 24 de outubro de 1939; ela ficou seis dias na rua e depois voltou por contra própria. Em 3 dezembro do mesmo ano, ela fugiu novamente; dessa vez ela apanhou uma condução até Yuma, onde foi capturada pela polícia vários dias depois. Em 11 de maio de de 1947, ela fugiu em plena luz do dia, sendo capturada doze horas depois. Ela fugiu de novo em novembro de 1951, mas foi apanhada horas depois. Em fevereiro de 1952, ela fugiu por cinco dias, foi encontrada na companhia de amigos. Em 23 de Novembro de 1952, ela fugiu novamente e mais uma vez, foi encontrada dois dias depois na companhia de um amigo. Em 8 de outubro de 1962 ela fugiu, dessa vez a fuga foi melhor sucedida: Ela se dirigiu para Oakland, Califórnia, sempre se esquivando da polícia. Lá, ela passou a usar o falso nome de de Marian Lane. Conseguiu um emprego como babá e empregada, na casa de uma rica família, os Nichols, sendo apelidada carinhosamente de "Mãe Nichols". A polícia só a encontrou em 27 de junho de 1969, mais de seis anos depois da fuga.

Instituição mental onde Winnie estava internada
Antes do natal de 1971, Winnie Ruth Judd foi liberta. Ela morreu tranquila, dormindo, na sexta-feira, 23 d outubro de 1998, aos 93 anos de idade.

Teorias
Apesar de o relato de legítima defesa não ter sido aceito oficialmente, muitas pessoas acreditam nele. Halloran perdeu sócios, pois muitos acreditavam que ele estava mais envolvido no crime do que foi relatado. Em um dos seus depoimentos, ao saber que seria condenada à morte, Winnie reforçou sua Inocência e afirmou que Happy Jack deveria ser condenado à morte assim como ela. Muitas coisas são mal contadas nesse caso: Winnie não tinha noções cirúrgicas e talvez nem teria coragem de desmembrar um corpo, como foi feito com o corpo de Sammy. Talvez ela tenha sido levada a confessar um crime que nem cometeu.

Fonte: Famigerados.

Um comentário:

  1. Só um total imbecil para acreditar em legítima defesa dessa mulher. Mas tem otário para tudo nesse mundo.

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